sábado, agosto 06, 2016

Não basta dizer que está na moda

Tem sido bastante a algazarra nos últimos dias, certamente fruto do desespero ou do devaneio que redunda em euforia a qual certamente acaba incrementada pela ingestão do chamado néctar dos deuses em quantidades industriais coisa em que essa terra é pródiga (é notável e estarrecedor como uma vila tão pequena todas as quintas-feiras tem que ser abastecida em todas as capelinhas pelo camião da Sagres) resultante da decorrência da festa maior do sítio que é a feira anual - já vi mercados mensais maiores. Do desespero por as carecas estarem a ser descobertas e a realidade (INCÓMODA) estar cada vez mais à vista. Por realidade incómoda entenda-se o declínio acentuado, a fortíssima erosão demográfica e tudo a ela associada.
Então vamos imaginar que se quer atrair gente para ali ir morar. Gente do norte, do centro, de outras partes do Alentejo, das ilhas, de outros países...
O que vão dizer para convencer as pessoas?
Bem, dizem para aí que o Torrão está na moda. Ok mas as modas vêm e vão e as modas passam... de moda e isto partindo do princípio que o sítio está mesmo na moda o que de todo é de uma falsidade atroz já para não falar da subjectividade da coisa. Mas é isto que se diz para atrair gente? É vago.
Dizem que é terra boa. Mais uma vez, vago e subjectivo. O que é «boa»? Boa em quê? Desenvolvam.
Dizem que tem gente boa. Bem, gente boa há em todo o lado. E como em qualquer lado, tem gente boa e tem gente que não vale um chavelho com a agravante de ali esta última existir em elevadas concentrações. Tem gente boa, é certo, mas tem também uma elevadíssima percentagem de lixo tóxico. Das maiores que vi ao longo da vida. Nem nas redondezas. Vago.
Dizem que tem tudo do melhor. Subjectivo mais uma vez. 
Vou convencer alguém a ir para ali dizendo que o Torrão tem o melhor pão e arrisco a que me digam não apenas que nem só de pão vive o Homem como podem dizer que se têm o melhor pão que o vendam noutros locais também.
Tem o melhor azeite. Não é verdade. Tem do melhor azeite mas não o melhor. Mais uma vez, azeite bom é para ser vendido noutros locais. Mas tão excleso azeite não chega a todo o lado. No Minho vê-se azeite de Moura, Montemor, etc mas do Torrão - supostamente do melhor - nem uma almotolia (almentelia no dialecto local).
Vinho idem aspas. Também dizem que é o melhor. Não é o melhor mas é efectivamente dos melhores como se pode ver aqui e aqui mas nem vê-lo por aí.
Seja como for, se tem tudo do melhor, porque é que as pessoas teimam em ir embora? Sobre isso eu já escrevi aqui.
Mais ainda: acham que isso são condições necessárias e mais que suficientes para fixar gente?
Ora respondam-me lá a estas questões. Mas respondam com seriedade e honestidade intelectual e não com o blá, blá de sempre, da crítica, do dizer mal e etc e tal. Respondam! Pois é verdade, eu ponho questões incómodas e a malta não consegue responder e à falta de melhor desviam assunto, ofendem, lançam anátemas...
Então digam lá: Qual é a oferta laboral que o Torrão tem para oferecer?
Tem boas acessibilidades? Tem uma boa rede de transporte públicos? Tem boas infraestruturas?
Tem uma boa oferta cultural? Desportiva?
Pois; é que se se quer fixar pessoas o que temos que lhes dizer, antes de mais, é que a oferta de emprego é boa e não que os lugarzinhos são distribuídos para os amigos e se divulgam em surdina apenas para alguns e para os outros não saberem. É que aqui no Minho a oferta é variadíssima e os anúncios estão em letras garrafais.
Portanto, se quiserem convencer alguém acham que é com esses argumentos tão pueris que atraem alguém? Só tolos mas disso é o que não falta aí - se não são tolos debitam tolices quase à velocidade da luz.
Se querem convencer alguém têm que dizer que a oferta de emprego é boa - nós sabemos que assim não é pois o pessoal em idade activa sai daí em massa e por alguma razão é. Adivinhe-se qual.
Depois lazer. O que há para as pessoas não morrerem de tédio? Para além do vira-o-disco-e-toca-o-mesmo nada mais há.
E poderia continuar mas fiquemos por aqui.
Tudo o resto é patuá de gente ressabiada e que sabe que dali nem bom vento... e nem bom casamento.
Deixem-se estar que eu já venho.