sábado, dezembro 13, 2014

PENSAMENTOS MANHOSOS – “TEMPOS CONTURBADOS”

Eu tive a felicidade de viver toda a minha vida tempos que, embora tristes e sempre conturbados, foram muito ricos históricamente e de grande aprendizagem pelo que pessoalmente não me espantam os acontecimentos neste momento no país. Também tudo o que eu penso e digo é apenas o que penso e digo e não pretendo razão nem atingir nenhum objectivo. Eu vivi toda uma guerra que eu nunca considerei guerra mas sim revolução ultramarina musculada que durou 13 anos. Não tínhamos inimigo mas sim portugueses descontentes como hoje existem irlandeses, espanhóis, franceses e, claro, portugueses que se querem libertar dos governos centrais. No Ultramar não matámos inimigos nem fomos mortos por inimigos mas sim lutámos fratricidamente e disso resultaram milhares de mortes de ambas as partes. Muitos portugueses socialmente intocáveis foram presos, deportados ou fugiram. Depois vivi uma revolução que embora muita gente diga que não matou ninguém eu sei que matou e vi algumas mortes. Só que esta última revolução já dura há 40 anos, tem vindo a matar muita gente, uns por isto outros por aquilo e, muitos portugueses também ditos socialmente intocáveis, têem sido tocados e vão continuá-lo a ser muitos mais. Todas as semelhanças entre as duas revoluções são notáveis a quem quer ver, só com uma diferença, na outra revolução havia um país extremamente forte económicamente, hoje temos um país extremamente debilitado, sem soberania e sem rumo. Um povo que andou com o herói Otelo Saraiva de Carvalho aos ombros e depois o viu preso. Com um Spínola que depois viu preso. Que deixou morrer praticamente incógnito um Salgueiro Maia. Salazar tinha feito o mesmo a Aristides de Sousa Mendes. Queixaram-se alguns de que Salazar esteve 36 anos no Governo, Alberto João Jardim gaba-se à boca cheia de que bateu o recorde. Dizem que antes não se podia falar mal do Estado, hoje também não pois o PR até já abriu processos contra um descontente ou mais e Sócrates diz que vai processar toda a gente. Dantes tinha-se medo de falar pois podíamos ir presos, hoje temos medo de falar porque podemos ser despedidos do emprego ou perder as benesses que são concedidas a muitos, que não a mim. Mas tudo isto a propósito de eu continuar à procura de semelhanças ou diferenças entre o antes e depois. Não há diferenças mas há semelhanças aos montes. O povo continua a ser, como antes, tratado de mexilhão. Todo este folclore de prisões por enquanto apenas me põe uma estranha sensação no cérebro. Prendem uns, soltam outros e no fim vão ficar todos amigos e a rir-se dos otários que continuam a crer neles. Toda esta gentalha política e rica que está presa, se não fôr para apanharem pelo menos 25 anos de prisão não percebo para que os prendem. Sim porque eu não acredito que os tenham prendido só porque meteram a mão na massa. Valores muito mais altos que aqueles que nós supomos se levantam para chegarmos a este ponto. E vamos lá a ver se ainda não vamos ter de os indemnizar todos por danos morais e erros judiciais. Ver o Alegre aos abraços com o Soares é o mesmo que o Portas abraçado ao Manuel Monteiro ou ao Ribeiro e Castro. Eu vi alguns democratas e até governantes de hoje abraçados a Salazar, não muito abraçados pois ele não permitia desmandos. Eu vi um Ministro da Educação de Salazar que mandou carregar sobre os estudantes em Coimbra em 1966, ser idolatrado por gente de memória curta e que se fartaram de chorar no seu funeral. Eu vejo ainda hoje em dia um ex-ministro de Salazar e depois ministro na democracia, ser chamado a opinar sobre problemas que estes cérebros não conseguem resolver. Quando assisto a um José Eduardo dos Santos e família a darem ordens a Portugal é porque já vi quase tudo. Quando vejo um Xanana fazer o que fez aos nossos Juízes não me espanta. Se chegar a ver a Isabel dos Santos, algum chinês ou algum árabe em Presidente de Republica Portuguesa não me vou espantar. Muito mais há que eu vi mas que não cabe aqui. Tal como eu, muita gente já viu o que eu vi mas terá as suas razões para não falar. Resumindo, estamos em período de arrufos, de ameaças tipo se falas de mim eu falo de ti, mas eu estou convencido que ainda os hei-de ver todos abraçados e aos beijinhos.


Uma boa semana para todos e pensem.

Jorge Mendes
Bruxelas, 10/12/2014

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