sábado, outubro 25, 2014

PENSAMENTOS MANHOSOS – Emigração

           
Por: Jorge Mendes 

Pois cá estamos mais uma vez a “Pensar Manhosamente” e desta vez sobre a Emigração. Emigra-se pelas mais variadas razões: Por mais salário, por aventura, por saturação, por opção política - sim ainda se emigra por opção política - por razões sentimentais. Desde sempre se emigrou e continuar-se-á a emigrar. Os resultados dessa emigração não serão os mesmos para todos embora a grande maioria consiga um substancial melhoria de vida. Eu, que há 40 anos salto de um lado para o outro penso muitas vezes: E se nunca tivesse emigrado? Não tenho resposta. Podia ter morrido, podia ter-me saído a lotaria... nunca saberei o efeito daquilo que nunca fiz. Emigrar comporta sempre uma complexa mistura de sentimentos entre os quais alegria, tristeza, saudade, receio, incerteza. A mim, o que mais me tem marcado emocionalmente é saber que nasci no mais fantástico País da Europa e que, por causa de uns quantos imbecis e crápulas que destruíram as condições básicas de vida dos Portugueses, sou obrigado a esta contínua procura de segurança e bem-estar. Quando não pude com eles recusei-me a juntar-me a eles. Bati estrategicamente em retirada porque nunca me submeterei a incapazes que só brilham à custa do brilho dos outros. Sempre me fiz respeitar e respeitei os países que me acolheram. Nunca, mas nem uma só vez, me senti descriminado em qualquer lugar. Nunca me senti nem mais nem menos que nenhum outro cidadão em qualquer parte do mundo e talvez esse facto me tenha dado esta forma de encarar a Europa abertamente e sem receio. Dezenas de vezes que fui cantar à Alemanha para alemães e sempre fui recebido correctamente. Contra aquilo que uma grande percentagem de Europeus pensam, eu acredito que 400.000.000 de pessoas a trabalhar no mesmo sentido têem muito mais força que 40 grupos de 10.000.000 de pessoas a trabalhar cada um para seu lado e desorganizados. A Batalha de Aljubarrota dá-nos bem esse exemplo de organização mas os que mais dizem de olhos postos no céu que o passado serve de exemplo ao futuro, pura e simplesmente estão-se nas tintas para a teoria. Contrariamente ao que uma grande percentagem também pensa, eu acho que quantos mais partidos políticos houverem maior será a dispersão de esforços e aumentarão os pretendentes a mandões. Enquanto o mundo for gerido por partidos políticos sejam eles quais forem, este não avança no sentido das pessoas mas sim dos interesses de alguns “chicos-espertos”. A emigração nunca será uma solução correcta sobre o ponto de vista humano. Enfraquecem-se as raízes e as ramificações vão perdendo qualidades. Cada um poder governar a vida junto da família, dos amigos e da terra que o viu nascer dá uma outra dimensão à própria vida. Durante os últimos 2 anos estive a trabalhar numa organização que minoriza o sofrimento dos que vivem sós e dos que andam pelas ruas e podem crer que vi, e continuo a ver, os efeitos devastadores que a emigração tem naqueles que por uma razão ou outra não tiveram sorte. Em terras distantes quando se acaba o dinheiro e não se encontra meio de ganhar mais ... a vida é de uma dureza horrível. Nestes países por onde ando as coisas também não estão fáceis para todos. Eu sei que há uma enorme diferença entre os 14,7% de desemprego em Portugal e os 8,5% na Bélgica, os 8% da Holanda, mas não consigo compreender essa mania generalizada entre os Portugueses de que a Espanha com 24,47% é que é bom. A União Europeia tem 26.000.000 de desempregados. Cuidado antes de emigrar. É que já devem saber que os tais “Tugas espertos” estão a ganhar campo de manobra e a exportar ”velhaquice” em grandes quantidades. Não acreditem em promessas e cantos de sereia.
Eu costumo dizer que a emigração não é melhor nem pior, apenas diferente, mas eu só tenho “pensamentos manhosos”. Que cada um decida o que lhe dita a cabeça e o coração e que tenha muita sorte.

Uma boa semana para todos e pensem.

Jorge Mendes
Bruxelas, 22/10/2014



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