sábado, outubro 11, 2014

PENSAMENTOS MANHOSOS – Desertificação


Muitas e muitas vezes dou comigo a pensar na desertificação do interior do País. Claro que serão “pensamentos manhosos” segundo aqueles que não estão interessados em reverter a situação. O medo da “livre concorrência de ideias” atemoriza quem se habituou a ser visto como o mais esperto do lugar. Tudo o que venha de fora e possa pôr em perigo a sua posição “catedrática” deve ser reprimido e afastado com todas as suas forças. As ideias novas que eles não conseguem entender são logo tidas como “ideias parvas”. Temem os debates e evitam até as próprias conversas porque lhes faltam os argumentos que, como nunca os tiveram, vão imediatamente por a nu todas as suas carências intelectuais. Estas pessoas, algumas gravitando há 40 anos nesta órbita, têem de entender que o futuro deles já foi, e que os próprios filhos e netos, quando se aperceberem, vão ficar muito decepcionados. Eu não quero acreditar que alguém faça ou decida errado só pelo prazer de se cobrir de ridículo, mas sim porque não tem capacidade ou conhecimento para fazer melhor. Assim sendo, vamos lá expandir os meus “pensamentos manhosos”.
Um dos segredos do sucesso dos centros comerciais é exactamente o facto de, ao co-habitarem um espaço comum, permitirem ao cliente numa única deslocação ter ao seu alcance tudo o que precisa e consequentemente aumentar o consumismo de quem não pode ou não quer conter-se. A concorrência é a única forma de progresso em tudo. Os centros comerciais, grande ideia do capitalismo, só tiveram sucesso porque os pequenos comerciantes das vilas e aldeias não se souberam unir e criarem o seu próprio espaço, antes de eles se lembrarem de avançar. Neste meu “pensamento manhoso” apenas pretendo demonstrar que, se não houver uma tomada de posição inteligente, com gente capaz, que saiba fazer e liderar a sério as aspirações das populações, todo o interior será destruído. Quando todo o interior estiver destruído virão então os “espertinhos das orelhas” instalar-se de borla. Se houver sentido de antecipação eles virão na mesma instalar-se, mas com regras que beneficiem quem toda uma vida labutou nesses lugares. Se um Isaltino de Morais conseguiu construir um concelho que é considerado o melhor e mais progressista concelho do País ao ponto de as pessoas o quererem de volta mesmo depois de ter estado preso, isso também é possível de fazer em todos os outros concelhos do País corrigindo apenas o facto de, em vez de os lucros iram para os bolsos dos nossos funcionários, irem directamente para o erário público ou seja o bem comum.
Alguém que me explique para que servem os terrenos inertes e os edifícios que são propriedade dos municípios? Porque é que esses bens não serão cedidos a preços simbólicos ou mesmo gratuitamente, desde que daí advenham empregos e bem estar para as populações? Ah e tal, mas existem leis que impedem isso. As leis foram feitas por homens e devem ser desfeitas ou corrigidas por homens quando o “todo” está em jogo. Com as modificações rápidas das sociedades, as leis ficam meteóricamente ultrapassadas e deixam de servir os interesses comuns embora continuem a servir os interesses dos tais que temem o progresso. Continuo a advogar o sistema da Islândia: Não precisamos de políticos mas sim de gente capaz de transformar em realidade as ambições das populações. Não precisamos de um PDM que seja violado por um “inadvertido” qualquer, mas sim de um PDM que possa ser executado pelos tais técnicos com competência e rigor em tempos razoáveis. Só aí sim se pode pensar em premiar os executantes e nunca os políticos, como ainda ontem advogou o Presidente da República, que passam a vida a gabar-se que fizeram isto e aquilo como se não fosse para isso que foram eleitos. Já alguma vez ouviram um político no fim do mandato vir pedir desculpa e justificar o facto de não ter feito praticamente nada daquilo que prometeu em campanha?
Realmente há pessoas que só têem “pensamentos manhosos”.

Uma boa semana para todos e pensem.

Jorge Mendes


Bruxelas, 07/10/2014

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