quinta-feira, maio 01, 2014

Porque devemos dizer não

Há muito tempo que temos vindo a tomar consciência de sucessivas investidas no sentido de se retirar a gestão do abastecimento de água, ao municípios. Muitos são também aqueles que se insurgem contra tais medidas e alertam mesmo para o facto das águas poderem vir a ser privatizadas e os preços não só dispararem como haver especulação em volta do bem entre outras implicações bem mais graves. Há também algumas câmaras, ou porque vão em cantos de sereia ou porque há sempre uma jogada por trás, que alinham no jogo. Jogada que vai desde a colocação da clientela política na dita empresa como os próprios autarcas um dia que findem o mandato, integrem os quadros superiores e conselho de administração da referida empresa. Nada de novo debaixo do sol. Penso que o vídeo abaixo não deixa grandes dúvidas acerca da perversão de tal medida.
Contra aqueles que afirmam que o que se pretende é vir a privatizar as águas, contrapõem os defensores de tal modelo, que não, que a gestão da água continuará em mãos públicas e que aquilo que se fará é entregar a gestão a uma empresa vocacionada para a gestão mais eficiente do recurso e blá, blá, blá whiskas saquetas, para hipnotizar os mais incautos. A conversa do costume; conversa da treta, conversa para boi dormir, como dizem os brasileiros.
Devo referir que há muito que eu queria escrever sobre o tema e isto porque nas minhas e com base no meu conhecimento cheguei a uma terrível conclusão. De facto a história repete-se e imaginação é coisa que não abunda; e se calhar nem é preciso. Depois de tomar conhecimento deste vídeo, o artigo veria inevitavelmente a luz do dia.
Vamos desde já traçar um paralelismo entre o abastecimento de água e o abastecimento de energia eléctrica.
No início, em Portugal, eram as câmaras municipais quem geria a rede eléctrica. Na verdade, e olhando para este artigo, a título de exemplo, foi a Câmara Municipal de Alcácer do Sal quem criou as condições para o fornecimento de enrgia eléctrica ao Torrão, nos anos 50.
Ora entretanto, e vendo que a coisa dava lucro, começou-se a procurar tirar a gestão da rede eléctrica das mãos dos municípios e criou-se uma empresa (pública, claro está) para gerir tudo o que estivesse relacionado com o fornecimento de energia eléctrica: a EDP, Electricidade de Portugal, Empresa Pública.
Agora repare-se nisto: os municípios são quem actualmente gere as águas. Ora o que é que alguns pretendem? Exactamente. Tirar a gestão do recurso dos municípios e centralizar toda a rede de águas, a nível nacional, numa empresa (pública). E qual o nome da empresa? ADP ou AdP!!! Precisamente; Águas de Portugal. Repare-se na semelhança: EDP, AdP (ou ADP). Daí eu referir há pouco que imaginação é coisa que não abunda naquelas cabeças e nem é preciso. Primeiro porque poucos são aqueles que sabem hoje em dia que em tempos idos a gestão da electricidade também esteve entregue às câmaras e depois porque os próprios mentores do esquema eles próprios não devem ter ideia de tal.
Ora tendo em conta a resistência que se verifica, optou-se por não fazer a coisa de chofre, e vai-se faseando a coisa. Não se passa repentinamente de um modelo para o outro. Ao invés, a coisa vai-se fazendo paulatinamente. Daí haver empresas locais, tais como a Águas do Alentejo, e outras a quem vai sendo entregue a gestão da rede. Repare-se que mesmo parte da gestão da rede de águas e águas residuais (esgotos) no Torrão já não está nas mãos da câmara mas sim da Águas do Alentejo. ETAR e depósito elevatório já não são geridos pela CMAS.
Quando essa fase estiver concluída e tudo estiver nas mãos dessas empresas regionais, todas elas se fundirão numa só: a AdP. É tão óbvio!
E com isso o que virá? Bem, vem a especulação, subida de preços, taxas disto e daquilo tal como nas facturinhas da EDP (depois teríamos também a factura da AdP). E da mesma forma como quem quer produzir electricidade tem que pagar uma renda à EDP e tem que colocar na rede o excedente, no caso das águas, quem tiver um furo ou um poço... não é preciso ir mais longe pois não?
E quem pensar que a coisa fica por aqui, desengane-se. Lembre-se que até há pouco tempo a EDP era uma empresa pública. O que aconteceu à EDP décadas depois de ser criada? Pois; foi privatizada. Calhou aos chineses. Podia ter calhado a outros quaisquer. É a lógica do leilão de feira: Quem dá mais? 
Claro que agora, e porque a história se repete, também se diz que a AdP (ou ADP) será uma empresa pública. E quem garante que no futuro não venha a ser privatizada? Está-se mesmo a ver. Vai-se entregar um recurso ainda mais necessário que a energia eléctrica, um recurso absolutamente vital, sabe Deus a quem. Russos, chineses, mexicanos, angolanos... quem der mais e o que daí advém.
Portanto, é imperioso não assobiar para o lado e fingir que não se passa nada ou ignorar a questão. É bom que todos estejamos bem conscientes até porque sem electricidade podemos muito bem passar já sem água é mais complicado. E não basta só palavras de ordem e abaixo-assinados. Se a coisa for mesmo para a frente é preciso tomar medidas musculadas e, no limite, drásticas. Unidos, nunca nos vencerão.
Quem avisa...


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