quarta-feira, outubro 23, 2013

Democracia do Sul: O Torrão em 1933 - Última parte

Apontamentos da História

Versão de Pinho Leal


Leia-se, a descrição que este historiador escreveu em 1880 a respeito do Torrão no seu Dicionário «Portugal Antigo e Moderno»:

Torrão - Vila, Extremadura (mas ao sul do Tejo) comarca e concelho de Alcácer do Sal (foi comarca de Cuba, concelho de Alvito).
Em 1768, tinha 415 fogos.
Orago, Nossa Senhora da Assunção.
Bispado de Beja, distrito administrativo de Lisbôa.
O tribunal da mesa da consciência e ordens, apresentava o prior, que tinha 180 alqueires de trigo, 120 de cevada e 20$000 réis em dinheiro.
D. Manuel, lhe deu foral, em Lisboa, a 20 de novembro de 1512. (Livro de forais novos do Alentejo fls, 49, col. 2ª).
O mestre da ordem de São Tiago, a que esta vila pertencia, lhe tinha dado foral, pelos anos de 1260, com grandes previlégios, que o rei confirmou no foral novo que lhe deu.
Situada em planície regada do lado norte, pela ribeira do Xarrama (que tem a sua origem na vinhas de Évora e desagúa no Sado).
Brites Pinto, fundou em 1560, numas casas suas, nesta vila, um recolhimento para beatas. Em 1599, a infanta D. Maria, senhora de Viseu e Tôrres Vedras, filha do rei D. Manuel e de sua terceira mulher, D. Leonor (filha de Filipe I, de Castela) transformou o recolhimento, em mostreio de freiras franciscanas, dando-lhe muitas rendas.

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É povoação antiquíssima, e já existia no tempo dos romanos, que na margem do Xarrama, construiram um sumptuoso templo, dedicado a Júpiter Olympio.

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Os temporais de dezembro de 1876, causaram grandes prejuízos nestas terras, deitando por terra muitas paredes e arruinando muitas casas. As sementeiras ficaram perdidas, e grande quantidade de azeitona foi levada pela cheia.
Em Pôrto de Rei e Pôrto de São Bento, a 15 quilómetros desta vila, os prejuízos ainda foram maiores, destruindo grandes  armazens de cereais. Na aldeia de Odivelas, também a 15 quilómetros do Torrão, a cheia levou seis moinhos, e todo o trigo que lá estava.

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O sr. Jerónimo de Magalhães Brasão de Sande Lânça Mexia Salema, foi feito visconde do Torrão, em 14 de setembro de 1855. Possúe por êstes sítios bastas e vastas propriedades, e é senhor de vários morgados, na vila da Lousã e outras terras.
Casou, em 1844, com a sra. D. Maria do Carmo Guedes Portugale Menezes, falecida em 12 de novembro de 1873. Era filha dos 1os viscondes da Costa, e tinha nascido, a 21 de maio de 1825.
O pai do 1º visconde do Torrão, foi o desembargador Joaquim de Magalhães mexia de Macedo, fidalgo da casa real, e senhnor da casa da Lousã. Era pai da sra. D. Tomázia, condessa das Alcáçovas.
Esta vila, foi solar da família Galvão.
Foi desta nobre família, frei António Galvão, nascido nesta vila, nomeado do século XVI. Foi um frade virtuosíssimo, e varão de grande ciência. Era perito nas líguas latina, grega e hebraica. Foi doutor em teologia, e lente da Sagrada Escritura, na Universidade de Comímbra.
Deixou manuscritos excelentes Comentários aos profetas menores, e um tomo de sermões.

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Bernardim (ou Bernaldim ou Bernardim Beinardino) Ribeiro, nasceu nesta vila do Torrão (disto ninguém duvida) em 1500, ou 1501, e era filho de pais nobres.
No princípio do século XVIII, ventilava-se uma questão de vínculos, entre famílias do Torrão, que se assinavam Ribeiros e Mascarenhas.
Apenso aos autos, andava um instrumento antigo, no qual João Ribeiro, filho de Gonçalo Ribeiro, senhor de Aguiar de Neiva e Couto de Carvoeiro, no almoxarifado de Ponte de Lima, provava ser primo co-irmão de Bernardim Ribeiro, fidalgo principal e muito conhecido pelos seus versos intitulados "Menina e Môça". Este intrumento, era datado de 1552, sendo já falecido o poeta.
Os Mascarenhas, que venceram o pleito, procediam de Manuel da Silva Mascarenhas, que serviu em Tânger e nas ramdas de Castela, com o general espanhol D. Fradique de Toledo.
Voltando a Portugal em 1640, foi um dos denunciantes da conjuração de 1641.
D. João IV, em prêmio da denúncia, o fez alcaide-mor da Tôrre do Outão, em Setúbal, e ao mesmo tempo, foi guarda-mor da alfândega de Lisbôa.
Este Manuel da Silva Mascarenhas, editou, em 1645, as poesias do seu parente, mudando o título de Menina e Môça para Saudades de Bernardim Ribeiro.
Est Mascarenhas, casou com D. Garcia Pereira, filha de João Sodré, de Ourem, mas não teve filhos legítimos. Teve dois bastardos, um foi assassinado em Setúbal, e não se sabe o fim do outro.
Bernardim Ribeiro, poeta, consta que deixou uma filha - Bernardim Ribeiro, comendador, deixou dois filhos e uma filha - Luiz, Manuel e D. Maria de Menezes. O mais velho, Luiz Ribeiro Pachêco, herdou a comenda de Vila Cova, e serviu-a em Ceuta. Casou com D. Catarina de Ataíde, filha de Fransico de Portugal, e já viúva de Fernão Gômes Dragão.
Mauel foi comendadorde Tanger, e morreu solteiro.
D. Maria de Menezes casou com Luiz da Cunha (o Pequenino).

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Há diversas edições das poesias de Bernardim Ribeiro - a 1ª foi impressa em Évora, em 1558 - a 2ª, em Lisbôa, no ano de 1559 - a 3ª, em Lisbôa, no ano de 1645 - a 4ª em Lisbôa, no ano de 1785.
Esta é aumentada com um raro opúsculo do mesmo autor, intitulado Trovas de Dois Pastores, 1536.
Tôdas estas edições são hoje raras, e a de 1559, raríssima.

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A vila do Torrão foi sêde de concelho administrativo até o momento de serem extintos os chmados "concelhos rudimentares", aí pelos princípios do século passado. Pouco tempo depois passava para o concelho de Alvito aonde esteve anexado até 1864. Di distrito de Beja e comarca de Cuba, passou então a pertencer ao distrito de Lisbôa, comarca e concelho de Alcácer do Sal. Até à extinção do morgadio em Portugal gosou esta vila enormes previlégios junto da côrte. Viveram nesta terra várias familias fidalgas de bastante prestígio, que aqui fizeam construir casas apalaçadas, algumas das quais ainda hoje em bom estado de conservação e ostentando notáveis brasões.
Teve esta vila dois conventos, um de freiras e outro de frades. Ambos os edifícios estão hoje muito danificados.
Quási todos os documentos e preciosidades históricas que constituiam o rico património do Torrão, foram destruídos e expoliados por mãos estranhas, nas sucessivas lutas entre liberais e miguelistas, e mais tarde, na mudança do Torrão dum concelho para outro, muitos dos documentos que escaparam à fúria da soldadesca, fôram impiedosamente mal acautelados e outros porém, cobiçados por gente invejosa que daqui os surripou, levando-os para sítios ainda hoje ignorados pelos torranenses.

Monumentos

São dignos de visita nesta vila os seguinte monumentos:

Igreja Matriz, "de portal manuelino, encimado pelo escudo nacional, o interior de três naves de arcos em ogiva sôbre colunas oitavadas e tectos de madeira. No cruzeiro e capela-mór lindo padrão de azulejos policromos, a branco, amarelo e azul. Na sacristia várias tábuas".

Coreto mudo - situado na praça Bernardim Ribeiro - Estilo barroco, com vários enfeixamentos. Visto de perto, perturba o olhar; visto de longe é simplesmente encantador...
É rico em tejolos da região e prolífero em buracos. Tem em tôda a volta do pavimento um gradeamento artístico, a única coisa que ali se recomenda. Merece ser incluido no número dos monumentos nacionais.

Casa das relíquias - situada na rua de Beja em frente ao establecimento do sr. Raimundo Branco. Estilo visigodo. Modêlo de arte bastante exemplar. Reüne tôdas as condições de higiene e confôrto. Tem sofrido diversas reconstruções, a última supômos, foi feita no reinado de D. Marmelo V, quinhentos anos antes de Cristo. Este monumento tem sido o enlêvo de todos os estrangeiros que teem visitado esta vila. Ainda há bem pouco tempo, uns turistas ingleses déram-se ao trabalho de o fotografar... com a cobiçada intenção de introduzirem no seu país tão imponente modêlo de arquitectura.
Este monumento presta-se presentemente, a urinól público e às vezes... substitue com grande vantagem a Walter-Close ao ar alivre, o que neste tempo é de grande conveniência para os emissários de tão honrosas e delicadas embaixadas. Escusado será dizer que há por ali um cheiro a essência de Parma que embriaga... muito superior aos produtos nacionais da Naly. É pena que êste monumento não seja alvo das atenções do Estado e continue tão miserávelmente desprezado.

Albergue das corujas - situado numa horta - chamada Horta sêca - Estilo arranha-céus. Começou a ser edificado no momento em que o padre Bartolomeu de Gusmão concluía os seus estudos de vôo na passarola em que mais tarde veio a elevar-se no espaço. É um monumento digno de aprêço. Honra a arquitectura e arte nacional. Há quem afirme, ser êste monumento o mais extraordinário de tôda a Península Ibérica. Depois de concluído - possivelmente quando as galinhas tiverem os dentes - deverá atingir uma altura colossal, muito superior ao prédio da Singer de New-York. Nessa altura as corujas terão de desertar, para ceder o seu logar às águias. E nós, para o vêrmos, terêmos que nos utilizar do telescópio.

Minas

É possível que noutras épocas, os diferentes povos que habitaram esta região tivessesm dedicado a sua curiosidade na procura de metais no sub-solo, mas semelhante conjectura, não pretende fazer crêr que êles existam de facto ou tivessem sido explorados. Até agora ainda não fôram encontrados vestígios de escavações subterrâneas, mas há, no entanto, quem afirme haver no sub-solo desta freguesia, importantes filões de metais preciosos.


Orografia

A freguesia do Torrão é quási tôda ela formada de extensas planícies. Só aonde se notam sensíveis elevações de terrêno é na faixa que a liga ao poente, com o concelho de Grândola. A própria vila do Torrão que é banhada ao norte pela ribeira do Xarrama, assenta na planície dum pequeno serro que descamba mais pronunciadamente para sul.


Hidrografia


Esta freguesia é atravessada de Leste a Nordeste pela ribeira Xarrama, que vai desaguar no Sado no sítio denominado Quinta de D. Rodrigo, a quinze quilómetros do Torrão.
Esta ribeira mete muita água no Inverno, provocando grandes cheias rumorejantes e vertiginosas, principalmente nos meses que decorrem de dezembro a fevereiro. Anos tem havido que as cheias teem assumido pavorosas proporções, e causando danos e vítmas nos moínhos situados ao longo das suas margens.


Hidrologia

Nos arredores do Torrão e em tôda a área ocupada pela sua freguesia não é com dificuldade que se encontra água a pouca fundura. A água dos poços existentes na vila não são muito próprias para beber, em virtude de serem demasiado calcárias e estarem sujeitas a freqüentes e perigosas inquinações. Contudo, teem a vantagem de se prestarem ao consumo dos animais, a lavangens e a rega das hortas. Aonde as nascentes são em maior número é nessa faixa diorítica que se esntende de norte a oeste desta vila, cujas águas são muito leves e puras, dum sabor extremamente agradável.


Flora


As culturas que maior representação teem nesta freguesia são as praganosas. Depois, pela sua enorme extensão, destaca-se a cultura arbórea, na qual toma especial preponderância, o sobreiro, a azinheira, o pinheiro e a oliveira. As plantas rasteiras coloridas e perfumadas, teem nesta região, muito pouca importãncia, e por isso mesmo passam quási despercebidas. Merece já especial atenção o largo desenvolvimento que pomicultura e os vinhedos, teem tomado nste últimos anos, em tôda a freguesia do Torrão.


Fauna

As espécies de animais de caça que mais abundam nesta região são: a lebre, o coêlho, a perdiz e a rola; e as muitas outras espécies de animais comestíveis e domésticos que entram no domínio da pecuária que maior representação teem são: o suíno, o lanígero, o caprino, o bovino, o cavalar, muar e asinino. Das outras espécies de animais daninhos, tais como: a raposa, o ginete, etc., etc., etc., não vale a pena falarmos delas, visto serem já muito raras nesta região.


Urbanismo

A quási totalidade das ruas desta vila são compridas e largas, mas tendo o defeito de serem turtuosas. Só uma dúzia de ruas, se tanto, escapam a essa defeituosidade. São elas: a rua dos Cardins, a das Estalagens, a do Jericó, a da Nossa Senhora da Albergaria, a dos Lavradores, a do Desmebargador, a das Freiras, a da Azinheira, a de João Falcão e a de João Chagas. Os prédios que ladeiam as ruas são quási todos térreos, e só numa ou noutra rua, se destacam um ou dois, de primeiro andar. As ruas que melhores prédios apresentam são: a dos Cardins, a do Relógio e a de Beja. E os mais corpulentos, vistosos e alegres, são os que foram o quadrilátero da Praça Bernardim Ribeiro.
É justo salientar aqui, o asseio e a alvura de tôdas as fachadas dos prédios, o que revela bem o brio e o espírito de higiene dos seua habitantes.


Instrução Pública

Em virtude dos professores das escolas de ensino primário se encontrarem ausentes, no gôso de férias, não nos foi possível, como seria de nossa vontade, tratarmos nesta reportagem do capítulo instrução, como é do nosso costume focar em tôdas as páginas regionais, dando-lhe a máxima amplitude e a expressão lógica de tôdas as suas mais instantes necessidades. Contudo, soubémos particularmente, que existem cêrca de 600 crianças em idade escolar, e só 200 apenas, freqüentam as escolas.








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