quinta-feira, outubro 17, 2013

Democracia do Sul: O Torrão em 1933



Sugestões e alvitres
que teem o mérito de advertir muitas coisas que andam esquecidas e desprezadas

Palavras de abertura

É esta a primeira vez, após de quási um ano de residência nesta vila, que a minha pena tem audácia de redigir uma reportagem a valer sôbre as coisas mais íntimas dêste já bem crescido aglomerado humano. Se, só agora aparece, organizada no maior dos silêncios - pódem todos os torranenses estar convencidos - que não foi o facto de arrecearmos alguma tareia, ou ainda porque andássemos de má vontade contra alguém. Nada disso. Simplesmente a falta de tempo tem sido o único e poderoso elemento a impedir que tão modesto como despretencioso trabalho, só agora veja a luz da publicidade. Mas, suponho, que vem muito a tempo de focar certas coisas, que andam esquecidas e desprezadas nesta terra digna de melhor sorte.
Os caros leitores e muito especialmente os torranenses, irão ter ocasião de sobêjo para vêr e apreciar, tudo quanto me foi possível descortinar e sentir, nas colunas que sucedem estas «palavras de abertura». aonde não aparece, creiam, o mais leve vestígio de agravo, de má fé ou de exaltação facciosa a contundir os sentimentos alheios, e muito menos sequer, a pretenção de menoscabar o brio e a honra, de tantos outros, que pelo facto de não se sentarem na nossa mesa, não são merecedores de que lhes atirêmos injúrias, à maneira de azagaia.
Ao jornalista probo e altivo, compete tratar todos os assuntos à margem das paixões e dos interesses individuais, colocando acima de tudo isso a vontade colectiva. É precisamente, seguindo esta bem honesta e recomendada orientação, que eu venho de alguns anos a esta data, fazendo todas as reportagens regionalistas, que felismente, teem ganho o aplauso e simpatia de todos os povos por mim visitados.
O presente trabalho não tem outro objectivo que não seja o de tornar públicamente conhecidos todos os valores e actividades desta freguesia. Trata-se, pois, inquestionàvelmente, dum consciencioso trabalho joranlístico, sem espalhafato e alarde do seu organizador, feito à custa de uma minuciosa investigação operada com insistência e pachôrra junto de alguns comerciantes e lavradores aqui residentes, que gentilmente se prestaram, durante algumas horas, a aturar a minha mais que atrevida e impertinente bisbilhotice. E foi dos preciosos elementos obtidos dêste e daquele, que eu consegui alfim, conhecer o supéravit das riquezas e actividades desta região, e com alguma mágoa, constatar o déficit de muitas e importantes necessidades urbânas.
E entre muitas coisas mais, foi-me ainda possível verificar no decorrer dêste inquérito, a falta de união e de bairrismo de alguns torranenses, que agarrados a um péssismo que os atormenta, persistem na infeliz tarefa de "não fazer" e não "deixarem os outros fazer"aquilo a que êles obstinadamente negam a sua colaboração. Eu considero este lamentável facto como uma doença mal tratada, e se me permitem, tomo aqui a liberdade de indicar o remédio para a debelar definitivamente. Aconselho o uso de um maior e mais completo êxame das realidades, a par dum freqüente exercício dos bons sentimentos de efectuosidade, olhando tudo e todos com respeito e ternura, vendo no próximo um nosso semelhante e dando à terra aonde nascemos e vivêmos, o melhor do nosso concurso, do nosso brio e da nossa inteligência, para que ela seja o enlevo dos que nos visitam e a algreia dos nossos encântos, tornado-a mais bela ainda, fazendo-a prosperar!
O contrário disto provoca o avolumar dos ódios e das más vontades; implica, indubitavelmente, no "enferrujamento" de tôdas as peças do maquinismo social desta vila, que em vez de mover-se com a potência normal, irá, pouco a pouco, enfraquecendo tôdas as suas células. E quem perde com semelhante quebra de movimentos? O povo! - únicamente o povo!
Desculpem, pois, êste duro desfabafo, e recebam o testemunho do meu inolvidável reconhecimento, pela forma tão amiga e verdadeiramente simpática, por que todos os torraneses secundaram êste trabalho.

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O abastecimento de águas constitue o problema de maior gravidade 
- nesta povoação -

Compete à nova Junta de Freguesia insistir na sua imediata solução,  junto dos Poderes Municipais e do Estado 

A vila do Torrão continúa a lutar com a falta de água própria para o consumo da sua numerosa população. A fonte junto do Matadouro e mais um ou dois poços existentes na vila, são já de si mais que insuficientes, para acudir às necessidades locais. A água da fonte é incolor e tem a desvantagem de ser desagradável ao paladar, e consequentemente à saúde pública. A dos poços, conquanto seja um pouco melhor, está sujeita às lamentâveis e freqùentes inquinações, e a tôda a a série de imundícies que lhe queiram atirar para dentro, visto não teem a protege-los a mais modesta e simples cobertura.
Disto se conclúe que o Torrão, àlém de lutar com a falta de água, tem ainda a infelicidade desta não prestar, o que motiva certamente, e com justificada razão, o descontentamento de todos os seus habitantes que encaram esta extrema penúria como um dos maiores perigos atentando contra a sua existência.
Não é lógico que considerâmos o abastecimento de águas um dos problemas de maior gravidade nesta povoação, e não é sem justiça que daqui exigimos a quem de direito, a prática das providências que o assunto tão urgentemente reclama, pois que, como é sabido, os povos não pódem viver tranquilos e satisfeitos sem água para beber.
À Junta de Freguesia cabe o dever de não descurar o problema, insistindo continuadamente, dia a dia, junto das repartições competentes, pela sua solução, embora, para tanto, tenha-se de esquecer das promessas que neste sentido, teem sido feitas à vila do Torrão. O problema das águas requere praticabilidade imediata, - menos promessas e mais obras - necessita sair do bêco acanhadíssimo em que se encontra encurralado, à mercê do pouco interêsse que as entidades competentes o teem votado. Se, por acaso a Câmara Municipal não tem verba suficiente para auxiliar êste trabalho  - e é natural que não a tenha - justo é pois, que a Junta de Freguesia e a Câmara trabalhem ambos de comum acôrdo, no sentido de obterem do Estado, pela verba do fundo de desemprêgo, a receita necessária para que este melhoramento tome a eficiência de uma realidade positiva, logo que dizem haver um perito competente a estudar o assunto e esperar-se que êste tenha os seus trabalhos concluidos muito brevemente. Estâmos convencidos de que ao ilustre engenheiro que a Câmara encaregou de fazer o estudo, não lhe deve ser difícil encontrar água em tôrno desta vila, água bôa e mais que suficiente para garantir ao máximo o consumo local. Oxalá que este nosso silogismo venha confirmar a verdade dos factos. 

Depois do abastecimento de águas garantido, outras necessidade há que carecem ser atendidas

Enumere-mo-las portanto: 

Saneamento das ruas - Qual a forma de praticá-lo? Construíndo uma ou duas fóssas assépticas para despêjos públicos em substituição dos colectores de esgôto que ficam mais dispendiosos. As fóssas podiam ser abertas, uma ao norte e outra ao sul da povoação. Só dêste modo se poderia proíbir aos habitantes, o lançamento de águas na via pública e dos dectritos nas estrumeiras que se encontram dentro da vila. A existência das estrumeiras nos quintais e a acumulação de imundícies em algumas ruas, são a resultante de falta de canalização de esgôtos ou, como se queira dizer, dessas fóssas assépticas. Sem uma coisa ou outra, será sempre impossível operar-se nesta vila o saneamento das ruas, por mais que as Posturas Municipais aconselhem a tal, e por mais persistente e cuidadosa que seja a acção sanitária do médico.

Calcetamento e reparação das ruas - Aqui têmos nós outro melhoramento que exige a atenção da Câmara Municipal. Um grande número de ruas necessitam ser calcetadas e outras reparadas na sua quási total extensão. Algumas há que se encontram em mísero estado e chegam a ser quási intransitáveis no inverno. Semelhante situação, contribue bastante para que as ruas se tornem imundas e perigosas à saúde pública, pela facilidade com que nelas se concentram tôdas as sujidades adquiridas com o tempo.


Mercado público - A venda das hortaliças, frutas, carne e peixe, vem fazendo-se há bastantes anos num recanto da Praça Bernardim Ribeiro, à laia de arraial de feira, sem o menor respeito pelo que seja higiene e compostura. As canastras do peixe são arrastadas pela calçada que tressua já fortemente a salmoura: as hortaliças, à falta de bancadas, andam por ali a granel pelo chão; as frutas, embora mais defendidas, sofrem muits vêzes de pequenos descuidos de quem promove a sua venda, e é com mágoa, que as vemos mal acomodadas; as carnes, incorrem no risco de não haver quem as defenda, para ali estão espetadas em ganchos e postas em bancadas detestáveis, suportando os efeitos do sol ardente nestes dias de verão e dos novêlos de poeira que se levantam em dias de ventania agreste. Resultado: mau cheiro, imundície e falta de aprúmo. E a respeito das môscas, não vos digo nada: são aos milhares, poisando sôbre nós e sôbre a imensa fauna apodrecida dos restos e das migalhas que escapam dos taboleiros.
Qual a melhor maneira de evitar êste espectáculo nada próprio duma terra da categoria do Torrão?
Ei-la:
Construíndo no mesmo local ou noutro que se julgue mais apropriado, um edifício coberto, com casas destinadas exclusivamente à venda do peixe e das carnes, deixando-se o suficiente espaçoreservado para a colocação das bancadas ou taboleiros que deveriam servir às hortaliças e frutas.
 - Mas isso é obra que custa muito dinheiro! - dirão alguns. E quando é que se fará?... - scismarão outros.
Eu direi sómente isto: - É um melhoramento que o Torrão necessita, e se levar muito tempo a efectuar-se, convençam-se que a culpa não é minha!


Iluminação pública - A petróleo? ou a azeite? Nada disso. Luz eléctrica! Luz eléctrica! Será preciso dizer mais vêzes?... Querem que comecemos daqui a gritar: luz eléctrica, luz eléctrica!... Pois bem, se quizérem far-lhe-êmos a vossa vontade, gritando uma noite inteira até que me encontre com a mulher da fava rica. Ponhâmos de parte, por agora, o humurismo, e tratêmos do assunto com a seriedade que merece.
A vila do Torrão teve sempre luz a alumiar as suas ruas, e noites tem havido que a iluminação, isto é, os candieiros de suspensão afixados às esquinas, teem feito, muito à sucapa, o seu contracto com a Lua. Contractos únicamente, e não gréves... A Lua é, embora muita gente não queira acreditar, uma grande amiga da economia do tesouro dos municípios, e os candieiros, porquanto não tenham êsse bom senso, não passam, quando muito, de pobres funcionários afectados de lazeira.
Mau... mau... cá estâmos nós com as piadas e a levarmos de novo o caso para a chuchadeira! Não me faça rir; deixem-me contar as coisas tal qual elas são... Escutem-me agora:
Em tempos foi prometida à vila do Torrão a montagem da luz eléctrica e negociadas, segundo informações que colhi em bôa origem, várias propostas que não fôram aceites pela Câmara Municipal. Uma das promessas da Câmara, de então, se não estâmos em erro, era, de mais tarde, assim que os serviços de luz e água ficassem definitivamente montados em Alcácer do Sal, trazer até ao Torrão um cabo condutor em alta tensão, a-fim-de a luz eléctrica ser montada nesta terra. Eas propostas - falêmos agora das propostas - vieram mais tarde, muito depois desta gente se sentir completamente desiludida do celebérimo cabo condutor, - que tem uma história muito semelhante ao aparecimento do rei D. Sebastião... - mas, ainda mais uma vez, repetimos, fôram essas propostas prejudicadas pela forte resistência que encontraram na Câmara Municipal.
- Que doutrina continham essas propostas para serem tão ásperamente repudiadas? E quais fôram as entidades que as redigiram e as levaram ao conhecimento da Câmara?
- Uma entidade somente - a Moagem do Torrão, Limitada.
- O que pretendia então, esta Sociedade de moageiros?
Expliquêmo-nos:
- Pretendia únicamente fechar um contracto com a Câmara, no qual aquela Sociedade se responsabilisava durante 30 anos, assegurar o fornecimento de luz eléctrica na via pública e nos domicílios desta vila do Torrão, sem nenhuns encargos para a Câmara, visto a aludida Sociedade ter-se comprometido no mesmo documento fazer tôdas as instalações de sua conta e risco.
- E qual o motivo que levou a Câmara a rejeitar tão excelente proposta?
Aqui teem a explicação:
- Pelo ridículo facto de a Câmara não querer conceder o exclusivo que lhe era pedido pela Moagem do Torrão, Limitada. Fôra só por isto e por mais nada que surgiram as dificuldades. Resultado: aquela Sociedade desistiu do assunto e a Câmara Municipal ficou apoiada na sua teimosa intransigência. Decorreram os meses... e vão volvidos já alguns anos que isto se passou, calculem, parece que foi há dias...
E escusado será dizer que ficamos tão bem servidos de luz como dantes... "Nada de novo na frente ocidental" - Querem luz eléctrica? esperem aí um grande bocado... até que apareça a mulher da fava rica.

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Mas ainda póde encontrar-se uma solução para o caso. Eu tomo a liberdade de a apontar:
- Como presentemente existem nesta vila duas fábricas de moagem e qualquer delas habilitada a fornecer luz eléctrica à povoação, bom seria que a Junta de Freguesia conjuntamente com qualquer das citadas emprezas moageiras, reacendesse a questão, levando-a até uma das sessões da Câmara e nela discutissem o problema e assentarem na melhor forma de o solucionar falando com o devido tempo o necessário escrúpulo, as condições pelas quais o fornecimento deve ser feito, e de modo que nem a câmara nem a empreza concessionária sejam prejudicadas nos seus legítimos interêsses. Faça-se isto e sem demora, porque póde muito bem ser que a actual Câmara, esteja pelos ajustes e queira desta vez ser grata ao Torrão. A nova Junta que tente, que tome coragem... Ela que experimente o pulso aos homens do Município. Sem se experimentar não se saberá de nada.
Vá, trabalhem, porque o povo lhes saberá agradecer. E eu, o mais que posso fazer, é dedicar-lhes umas linhas...

As necessidades não ficam por aqui... são tantas como os cogumelos em terras de charneca 

Há, por exemplo, esta, e que tem escapado indiferente à protecção das repartições competentes:

Ajardinamento do recinto fronteiro ao edifício escolar - "Que diacho de idéia é essa de ajardinar o espaço vazio fronteiro à escola? não me dizem?..." Parece que estou a ouvir murmurar... "Mas quem é que murmura?" Ora, quem há-de ser... as nossas comadres aqui vizinhas, que só percebem de meias e de refogados. "Não acredito que sejam elas. Diga lá a verdade, não esteja com tolices!" Tolices!? Então o meu amigo acha-me capaz de proferir tolices? Nem a brincar lhe adimto essas insinuações! Eu só sei dizer as verdades... embora às vezes tendo dolorosos amargos de bôca! Então diga coisas... desabafe... " Que remédio terei eu se não despejar o saco. Estou aqui em brasas porque não vomito tudo." Venham de lá essas coisas... «-observou um amigo meu, com quem venho conversando há um bom bocado, denunciando assim, a sua profunda impaciência.
Falêmos pois, a sério:
Tem o edifício escolar um espaçoso recinto vizinho à sua alvinitente e graciosa fachada principal que, leões me devorem, se depois de limpo - sim! porque como está é indecente, irrita os nervos aos parceiros, caisa enjôo aos estomâgo mais resistente dêste mundo - e como íamos dizendo, convenientemente ajardinado, não daria ambiente de sobêjo para as crianças se recriarem, gosando ali da bastante pureza do ar  e das carícias reconfortantes do Sol? Julgâmos que sim. Será mil vezes preferível o aludido local ajardinado e tratado com mimo, do que termos de o vêr povodado de imundície e da praga irritante e enfadonha dos cardos. Será isto uma tolice nossa?...
E ainda mais: Aquele local, depois de bem arrumado, de bem escanhoado, podia vir a ser utilizado muitas vezes pelas instituições extra-escolares que nele quiséssem, mediante superior autorização, realizar festas em prol da beneficiência local e até mesmo da dita escola e das inúmeras crianças que a frequentam. Será isto uma tolice nossa? Limpem-no, ponham-no em ordem e verão se fica ou não mais decente. Ora, experimentem... Ah! já me esquecia de lembrar a quem de direito, que as obras de higiene e embelesamento no dito edifício aguardam as respeitosas vossas excelências. Não se esqueçam, ouviram?
Mas há mais... ainda agora a procissão vai na praça. Se fôsse a enumerar aqui tôdas as necessidades do Torrão e da sua freguesia, não acabaria o estendal senão daqui a daois mil anos, já quando, provávelmente, todos os nosso vindoiros deverão ir fazer as suas compras ao novo mercado, montados em avejões, perdão! não era avejões que eu queria dizer, mas sim aviões.
Como o prometido é devido, resolvo-me a oferecer ao Estado e à Câmara, mais estes pratos com deliciosos pudins:

1º prato: - Reparação de todos os caminhos vicinais da freguesia, e simultâneamente, a construção de viadutos, em alguns dêles;

2º prato: - Cedência de um mais avultado subsídio do Estado, a favor do Hospital da Misericórdia desta vila, que tem estado a receber a bagatela de 1.000$00 anuais, importância esta que mal lhe cabe na cova de um dente;

3º prato: - Reparação da Igreja Matriz, desta vila, hoje considerada monumento nacional, sob pêna de... adeus ó viola!...;

4º prato: - onstrução de um edifício escolar para ambos os sexos, na vizinha aldeia de S. Romão, anexa a esta freguesia, e cuja população vai àlém dos 1.600 habitantes;

5º prato: - Construção de uma ponte sôbre o rio Sado em frente a S. Romão, que ligue finalmente as duas margens, e possa concorrer para o estreitamento de relações entre os povos que habitam aquela região e os muitos outros que povoam o concelho de Grândola, confinante com esta freguesia.
Nota - Esta ponte deve, mais tarde, dar passagem à estrada que está projectada há cêrca de 40 anos e actualmente figura no plano geral das construções de estradas do País, tornado público na imprensa há pouco menos de três anos. A referida estrada nasce em Grândola, passando pelo Sado, vai ligar-se à estrada internacional no sítio denominado Várzea das Mós, que fica a 15 Km de distância do Torrão;

6º prato: - Alargamento da ponte sôbre a ribeira do Xarrama que corre a uns 500 metros ao norte desta vila;

7º prato: - Construção de um edifício que se adapte convenientemente à instalação do Hospital da Misericórdia desta vila, visto o prédio aonde êste se encontra há imensos anos a funcionar não reünir nenhumas condições de alojamento que permitam uma mais meritória eficiência hospitalar, e muito menos sequer, póde atender às necessidades mais rudimentares da assistência que é devido prestar-se aos doentes pobres.

E, finalmente, para pôr termo a êste longo arrazoado, bom será advertir mais uma vez:
- O problema que é digno de rápida solução é o de abastecimento de águas, precisamente por ser o mais grave e o de maior importância de entre os muitos de somenos valor que anteriormente ficam apontados. Depois do Torrão ter água com abundância, já se poderá futuramente pensar em outras obras de utilidade pública, tais como: lavadouro e chafarizes, jardins e parques, etc., etc. Sem água jámais será possível limpar a cara da vila e tornar o seu corpo sádio e fresco. Os outros melhoramentos devem fazer-se depois do Torrão ter água com fartura! Isto que nasça da acção...
Desculpem a minha imodéstia e o ser-lhes tão generoso nas minhas ofertas. Eu bem sei que vão ficar enjoados com tantos pratos de pudim, mas para a outra vez serei mais modesto, oferecendo-vos, segundo os hábitos mais em voga entre a família alentejana - ou eu não fôsse um alentejano de gêma - umas tijelas com excelente môlho de ensopado à pastor aonde não faltará, creio eu, o bom vinho da região a regar tão substancioso nutritivo.
E fico-me por aqui.

Manuel Ramos 



Continua...


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