domingo, agosto 11, 2013

A Caverna



Caríssimos leitores, a história que quero partilhar com todos vós ouvia-a e aprendia-a há muitos anos. É uma história velha, com cerca de 2500 anos originária da antiga Grécia; o seu criador, um mestre de seu nome, Platão. Apesar de distante no tempo, esta história continua tão ou mais actual do que nunca pois mais não é do que a representação alegórica da condição e da natureza humana. Conto-a porque não é nada mais senão o que aqui se procura fazer neste blog. 
Mas afinal que história é esta?

Bem, a Alegoria da Caverna, também conhecida como a Parábola da Caverna, o Mito da Caverna ou os Prisioneiros da Caverna é da autoria, como já foi referido, do filósofo grego Platão e encontra-se no livro VII de «A República» daí ser também comumente conhecido como «A Caverna, de Platão».

Imaginemos uma caverna e um muro bem alto no seu interior, separando o mundo exterior do interior. Na caverna existe uma fresta por onde passam fracos raios de luz produzidos por uma fogueira mantida acesa por homens. No interior da caverna, virados para o fundo e de costas para o muro, encontram-se outros seres humanos que ali nasceram e cresceram e ali se encontram desde sempre. Estes homens encontram-se presos por correntes e grilhões de forma que pouco ou nada se podem mover sendo forçados a olhar para o fundo da caverna que serve de tela onde os raios de luz projectam sombras de animais e de outros homens. Pelas paredes da caverna também ecoam sons, embora distorcidos, incluindo as conversas dos caminhantes, vindos do exterior de forma que os prisioneiros pensam que são as sombras projectadas na parede quem de facto emite tais sons de tal modo que, e não conhecendo nada mais a não ser aquele mundo, pensam que tudo aquilo é a realidade.

Imaginemos que um dos cativos consegue libertar-se e a pouco e pouco vá caminhando e transpondo obstáculos até chegar ao exterior, descobrindo, sem primeiro verificar grande dificuldade em adaptar-se à luz solar, que não só as sombras eram produzidas por outros homens iguais a eles como descobrindo ainda todo o mundo exterior e a natureza e que, maravilhado com tamanha descoberta, bem intencionado, não se limitou à mera contemplação, achando-se na obrigação moral de ajudar a libertar os demais prisioneiros, regressa ao interior da caverna para dar a boa nova aos seus irmãos escravos e companheiros de cativeiro, revelando-lhes e tentando-lhes explicar que eles vivem num mundo falso, num mundo de sombras.
Incrédulos, os demais prisioneiros, que toda a sua vida se encontraram naquela desgraçada situação, acharam tudo aquilo tão incrível que não só se recusavam a ouvi-lo, como ainda o ignoravam, se riam dele, tomando-o por louco e inventor de mentiras e se, caso ele tentasse libertá-los ou simplesmente se mesmo aprisionados o conseguissem capturar, o matariam pelas suas próprias mãos.


Hoje, passados 2500 anos, 25 séculos, apesar de toda a informação, de toda a tecnologia, de todo o avanço civilizacional lamentavelmente constato que a grande maioria dos seres humanos ainda vivem encerrados na escura caverna pois que é difícil de reconhecer ao Homem que desde sempre viveu enganado, que é difícil sair da zona de conforto, que tem que passar por grandes dificuldade e sobretudo adaptar-se a uma nova e chocante realidade. Deve-se ainda ao facto de que o ser humano ser por natureza fraco nas suas três dimensões: espiritual, mental e física. Porém tal como o corpo físico, que pode ser fortalecido mediante regulares exercicios e estimulos, tal como a mente que pode ser fortalecida pelo estudo e pelo desejo de conhecer, também o espírito pode ser, se devidamente treinado, fortalecido. Passaram-se 2500 anos mas hoje, mais do que nunca, sofisticados jogos de sombras e cortinas de fumo nos inebriam e nos tentam criar uma sensação ilimitada de conforto querendo manter-nos prisioneiros, manipulando-nos como aqueles que alimentavam o «espectáculo» na caverna, ofuscando-nos com poderosas luzes que projectam grandes e reconfortantes efeitos, entorpecendo-nos a nossa capacidade crítica; capacidade crítica que mais não é do que a nossa capacidade racional, a nossa capacidade de distinguir e de emitir juízos sobre a realidade seja ela qual for, a das sombras e a das luzes, a verdade e a ilusão, o bem e o mal. Hoje mais do que nunca é preciso um esforço sobre-humano para conseguir quebrar as grossas correntes e grilhões que nos tentam manter prisioneiros, e conquistar a almejada recompensa - atingir o conhecimento através da razão. Hoje, mais do que nunca, todo aquele que sente o dever moral de partilhar com os seus irmãos tudo aquilo que já vislumbrou, corre exactamente os mesmos riscos, o ser ignorado, em primeiro lugar, o de ser desconsiderado, marginalizado, ridicularizado, tomado por louco, por parvo e por fim o risco de destruição esquecendo-se ou dito melhor, ignorando-se que, tal como a história da humanidade tem mostrado ao longo de séculos, ser impossível parar a força das ideias e a força da razão.

Pensem nisto!







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