sexta-feira, novembro 23, 2012

Pequenas desvergonhas


Perdendo o pudor, as estruturas do Estado estão a tratar os cidadãos como serviçais a manipular, a espoliar. A falta de respeito atinge a indecência, criando todas as condições para graves fracturas sociais. Pequenas desvergonhas multiplicam-se sem cessar: agora é a Administração Geral Tributária que endereça cartas, de açucarado cinismo, aos proprietários de casas no sentido de estes lhes enviarem plantas dos seus imóveis dentro do prazo de dez dias, para reavaliação – leia-se, esbulho fiscal.
Nos estabelecimentos comerciais, além de produtos, impingem-nos papelinhos (as famigeradas facturas) pensando que temos pachorra para os receber e guardar. Esse problema é das Finanças, não é nosso: não desembolsamos já demasiados impostos para nos maçarem com semelhantes ridicularias?
O mesmo se passa em relação à recolha do lixo, isto é, à peregrina ideia de devermos ser nós a separá-lo (então as taxas que pagamos para isso?) em sacos, saquinhos, saquetas, antes de o distribuirmos por imundos recipientes camarários.
Pequenas desvergonhas são igualmente as que sofremos em repartições, bancos, hospitais, centros de saúde, estações de correios, de comboios, etc., com a inexistência, nos espaços de espera, de cadeiras suficientes, com guichets (mais de metade) encerrados ante filas em pé, em resignação.
Pequenas desvergonhas são ainda as das gasolineiras onde os utentes têm de sair dos veículos, pagar adiantado, encher o depósito, porque se extinguiram, para poupar, os (prestáveis) empregados de outrora.
As ilusões dos que afirmam sermos um povo de “aguentas” vão rasgar-se: pequenas desvergonhas são pequenas gotas de água que fazem extravasar os grandes tanques da paciência colectiva.

Fernado Dacosta daqui

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