sexta-feira, junho 29, 2012

A MINHA CRÓNICA: Carta Aberta à minha querida e velhinha VILA de ALCÁCER DO SAL


Minha querida e Velhinha Vila

Quantas saudades sinto de ti! Os anos passaram… já lá vão 65, mas nunca te esqueço nem esquecerei. Sou teu filho e como bom filho, amo como minha Mãe, a Vila que me viu nascer e crescer, como se de um filho se tratasse.

És velhinha, és uma das mais antigas cidades da Europa; dizem que foste fundada pelos Fenícios 1.000 anos antes de Cristo mas sempre te mantiveste forte e firme com o nosso castelo altaneiro e o calmo rio Sado beijando-te os pés.

 Foste Mãe de grandes figuras, muitas delas esquecidas. Foste definitivamente conquistada no reinado de D. Afonso II de Portugal por um conjunto de forças portuguesas,  coordenadas pelo bispo de Lisboa, Soeiro Viegas,  e por uma frota de cruzados sob o comando de Guilherme I, conde Holanda a 18 de Outubro de 1217.

Recordo-te com saudade velhinha VILA, quando os sábados eram uma azáfama no mercado local, hoje mais pomposamente chamado comercio de proximidade… A loja do Barradas, do Roupa, do Rosa, do Fragoso, do Lino, da Sabina, da tia Palmeloa, as regatarias da Menezes, da Georgete, da Elvira, da Emília, a loja da tia Leopoldina, os cafés do Floriano, do Manuel do Vale, do Castelo, do Jassé… tudo era movimento nestas ruas,  porque depois do trabalho árduo no campo, vinham-se abastecer na compra dos produtos alimentares, o mercado do peixe na ribeira velha, as  padarias dos Lopes, dos panificadores com a Maria Rosa, a Cálinda, o Alferes nos Açougues... mas infelizmente tudo foi isto substituído por modernices das grandes superfícies e Fóruns e agora que vemos a Rua direita...  90% das lojas fechadas, prédios degradados uma rua que serve para os cãezinhos fazerem as suas necessidades e as lojas locais às moscas.
Bem, mas vamo-nos deixar de saudosismos; mas que tenho saudades tenho e ninguém tem nada a ver com os meus sentimentos.

Agora és cidade… Mas porquê?! Sinto e vejo que estás mais pobre do que quando eras VILA. Sinto falta do movimento nas ruas, nos estabelecimentos, das lavagens no tanque do passeio e da fonte nova… será que este nome pomposo de CIDADE te trouxe algum beneficio? Penso que não; e sabes porquê querida e velhinha VILA? Porque mais de 80% daquilo que tu tinhas como VILA, acabou-se quando passaste pomposamente a cidade. Mas para mim és e serás sempre a minha VILA de Alcácer do Sal.

Agora pergunto à tua filha cidade: para onde caminhamos? Que será feito de nós quando vemos partir tudo que tu tinhas? Desapareceram os serviços da EDP, fugiram os comboios, vai fugir não se sabe para onde, o Tribunal, as Finanças, a extinção de freguesias, temos hospital e centro de saúde mas querem acabar com o atendimento permanente no Centro de Saúde, a Câmara acabou com o transporte urbano, os moradores querem vir á dita cidade... que venham de táxi. Têm dinheiro para isso??? Se não têm para os medicamentos e até para a alimentação, como terão para suportar essas despesas???  Até o transporte em ambulâncias acabou! Não pagam aos Bombeiros que dão, VIDA POR VIDA, desinteressadamente e lutam pela manutenção das nossas florestas e pela saúde dos munícipes. A muralha que querem deitar abaixo… Venham marés vivas e teremos piscinas naturais na avenida e no largo Luís de Camões. Tanta coisa que tu Velhinha VILA deixaste e tudo está a acabar.
 É verdade querida VILA VELHINHA, lembras-te daquela torre do relógio, que comandava as vidas da População? Que se regulavam pelas badaladas das horas? E quando os empregados estavam à porta dos estabelecimentos esperando as badaladas das 9 horas ou das 3 da tarde para abrirem as lojas? Tudo isso vai acabar e sabes porquê querida Velhinha Vila? Porque querem deitar a Torre do Relógio abaixo. O cartão de visita por quem entra pela margem esquerda na dita cidade, vai desaparecer - dizem que  está a cair em perigo de derrocada. E será que não há ninguém que procure encontrar uma solução para uma restauração da referida torre? Vais-te admirar querida e Velhinha VILA mas digo-te do coração: tudo o que nos deixaste vai desaparecendo aos poucos… A TORRE DO RELÓGIO ser deitada abaixo???!!! E diz o Presidente da Câmara que a culpa é da população; seremos nós os responsáveis se isso acontecer!!! O Presidente da Câmara não é arquitecto? Não tem engenheiros e arquitectos na Câmara que possam estudar o processo de recuperação??? Faltas tu VELHINHA VILA para dizeres a esses senhores que existe um organismo que se chama IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) para as vertentes histórica, cultural, estética, social, técnica e científica.

  A criação deste organismo que foi criado para substituir o IPPAR, tem como objectivo zelar pela conservação e manutenção dos imóveis que podem ter como classificações Monumento Nacional, Imóvel de Interesse Público e Imóvel de Interesse Municipal. Será que a tua velhinha TORRE DO RELÓGIO não cabe em nenhuma destas categorias??? O IGESPAR diz na sua legislação que o conjunto considerado social ou sejam notáveis pelo interesse histórico, arqueológico, artístico, científico e social,  podem e devem ser preservados ou recuperados e tu velhinha TORRE DO RELÓGIO, estás tão velhinha que não cabes em nenhuma destas categorias? Tu, que foste criada aquando da edificação do castelo juntamente com mais 6 torres, inclusivé uma albarrã semelhante à do castelo de Badajoz; vocês são testemunhas de várias épocas construtivas. A velhinha TORRE do RELÓGIO e a TORRE de ALGIQUE foram erguidas em taipa, elevando-se a 25 metros de altura!  

Querida e velhinha VILA, não quero sentir o encerramento de mais serviços e da destruição do património que eu chamo de municipal.  Querida e VELHINHA VILA, não queremos ir a outros concelhos tratar de assuntos de tribunal, finanças, luz, apanhar comboios a que chamam inter-cidades, mas que vão parar nas vilas… Olha querida e VELHINHA VILA, estamos num processo de declínio SOCIAL E CULTURAL. Se tu VELHINHA VILA, cá viesses agora… choravas de vergonha e pedias para voltares ao passado só por veres o que fizeram de ti… Querida Velhinha VILA…estou arrepiado de emoção pelo que te estou a escrever. Penso nas nossas crianças, HOMENS e MULHERES do amanhã e quem sabe até nossos Governantes: qual será o seu futuro? Ah já me lembrei, desculpa; acabam os cursos e procuram emprego em outros concelhos porque aqui nada têm para fazer. Só se tiverem algum padrinho que os proteja…

Querida e Velhinha VILA, não peço para sorrires, isso seria hipocrisia  da minha parte, mas não fiques assim tão triste como eu; há sempre um raio de esperança e como costumo dizer, mesmo em dias negros, olho o Céu e vejo sempre uma nuvem de ESPERANÇA.

Assim me despeço de ti, VELHINHA VILA. Estás e estarás sempre  comigo. Sabes o que diz o Presidente da Câmara? Diz que eu tenho ALCACER no coração. Claro que tenho! EU SOU TEU FILHO, por isso te digo: AMO-TE minha querida e saudosa VELHINHA VILA  DE ALCACER DO SAL. Morreste! Agora és CIDADE mas as saudades mantêm-se e estarás sempre no meu coração.
Com amor me despeço, este teu fiel filho, de ontem, hoje e SEMPRE.

 Depois de lerem esta carta, se tiverem vontade, SORRIAM E FAÇAM O FAVOR DE SEREM FELIZES.  Boas Férias e até Setembro se DEUS quiser.


 
Vital Mirra in Voz do Sado 

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