quinta-feira, dezembro 29, 2011

O calendário da desigualdade


É com muita tristeza, decepção e até mesmo a contra-gosto que vou abordar este tema. Não é fácil. Este é de facto um trabalho duro mas alguém tem de o fazer.
O calendário, da Junta de Freguesia do Torrão, para 2012, é na verdade um dos, se não mesmo, o mais infeliz. Pergunta-mo-nos todos, estupefactos como é possível um orgão do Poder Local, um órgão político, uma instituição pública favorecer, ainda que, e creio mesmo que o fizesse de forma inocente e inconsciente, certas e determinadas empresas, empresários e cidadãos sediadas na Freguesia em deterimento dos demais; que ainda assim são a esmagadora maioria que foi discriminada? Fosse como fosse, fê-lo e quanto a isso não há volta a dar. Como consequência, o dinheiro dos contribuintes, de todos, inclusive e, ironia das ironias, daqueles empresas e empresários que foram descriminados, acaba por servir os interesses de alguns particulares que assim dispõem de publicidade grátis. Ó meus caros, quem quer publicidade em calendários que os mande fazer e os pague.
Se a ideia era mostrar a riqueza gastronómica da Freguesia do Torrão, como certamente foi, o mais sensato seria pôr as garrafas de vinho de todos os viticultores como foi o caso e bem; um garrafão do bom azeite Xarraminha ao lado do bom azeite de Vale d'Arca sem fazer menção à Cooperativa embora tal nem fosse grave pois esta não é própriamente uma empresa; fotografava-se um pão de quilo sem mencionar nomes de panificadoras embora tal ficasse inevitávelmente implícito; um prato tradicional com bolos sem nada mais... esta seria uma publicidade neutra que fazendo alusão aos melhores produtos da gastronomia local ainda assim não favoreceria ninguém nem discriminaria ninguém.
Como se não bastasse, para cúmulo e à falta de melhor, num calendário com motivos gastronómicos... caixilharia(!!!). E a pergunta é: Porquê? Bem, a não ser que haja por aí quem devore portas de alumínio ao pequeno-almoço. Não as tinha por iguaria. Há-as de todas as cores, certamente terão diversos sabores, tipo os sorvetes: é cada côr seu paladar.
Então não havia mais nada para pôr? Um tacho de barro com o ensopado de enguias do Restaurante Mil Brejos, ou O Caçador, do Batão, povoação que também faz parte da Freguesia, ou os restaurantes de Rio de Moinhos ou o leitão do Excelentíssimo. Uma alusão ao Belo Horizonte, Girassol, Afluente do Sado, O Besugo, etc, etc? Agora portas de alumínio??? Então mas a ideia não era alusão a produtos comestíveis? Outras actividade, como a construção e materiais de construção ficariam para o ano por exemplo (sem nomes). Podia-se retratar paisagens, os montes da Freguesia, tanta coisa...
Nada é contra quem consta no calendário. Se quem aparece não aparecesse e quem não aparece aparecesse era exactamente a mesma coisa. Isto não é um problema de pessoas ou empresas. É um problema de princípios. Ou constam todos ou não consta nenhum. Chama-se a isso: Princípio da Igualdade. E o princípio da igualdade foi neste caso ferido de morte.
Na verdade este calendário é a materialização perfeita de uma prática antiga por estas paragens. Uns são filhos e outros enteados. Uns ganham tudo e a outros tira-se-lhes o pouco que ainda têm. Uns são filhos de um deus maior e outros são filhos de um deus menor. Uns são filhos da mãe e outros são filhos da... em suma, mata-se uns para dar vida a outros. Nada de novo. Assim acabam por mudar só as (algumas) moscas, como diria o outro. É pois necessária uma profunda mudança de paradigma.
Quanto ao calendário em si, é bem melhor que o do ano passado, o qual tinha algumas gralhas e as letras para muitos, só com óculos. Este não. Tem as letras gordas (até dá para ver ao longe e tudo) e está bem arrumado. É um belo calendário. Tão bom, que já tenho um exemplar a ornamentar a minha parede da cozinha.

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