sexta-feira, agosto 12, 2011

Geração sem esperança

Por: Rui Rangel, Juíz Desembargador in Correio da Manhã

O modelo político europeu criou e alimentou uma geração sem esperança. Uma geração sem valores, sem referências, perdida na espuma dos dias. Os responsáveis por esta triste realidade são os dirigentes políticos que não perceberam que, ao não providenciarem soluções para os menos favorecidos e desempregados, seriam estes a tratar da vida dos mais favorecidos, semeando a violência e a desordem social.

Os fenómenos de violência a que estamos a assistir na Grã-Bretanha, a pátria dos direitos e da civilização, têm de tudo um pouco. Quem pensar que se confina a um problema de criminalidade pura e dura engana-se. Não são só grupos de criminosos à solta. Os problemas sociais, a falta de emprego e de formação, a ausência ou desagregação das famílias também estão associados ao que se está viver.
O que temos é, sem dúvida, uma geração sem esperança numa Europa sem esperança, que está velha e esgotada. Que adianta uma Europa com história, que prega valores, se não é competente para oferecer trabalho a quem precisa de comer?
Naturalmente que os criminosos, os xenófobos, os racistas, a emigração ilegal e os nacionalismos, ou seja, todos os que vivem nas franjas da sociedade, aproveitam-se do descontentamento instalado. Este é um terreno fértil para aparecerem e imporem as suas regras. E como a Europa não se fecha à chave, não conseguiu impedir a entrada de gente sem rumo, que procura uma vida melhor.
Esta mistura de raças, este conflito de gerações de jovens em busca do tempo perdido, que nada têm a perder, porque nada têm, torna este terreno explosivo. E mais explosivo devido ao efeito multiplicador do conhecimento gerado pelas redes sociais e pela cobertura dos média.
Sendo certo que é preciso impor sempre a ordem social e a paz, estes problemas não se resolvem, de forma sustentada e consolidada, à bastonada. As bastonadas resolvem o provisório, mascaram a face da violência e dão uma ilusão de paz. A paz e a segurança resolvem-se com emprego, estabilidade social, com redes de apoio e de solidariedade, com educação e com formação.
Luther King inspirou uma geração em favor das transformações sociais sem nunca abrir mão da paz.
Para esta geração sem esperança que caminha na esperança de encontrar a sua paz e a sua vida, a guerra e a violência são o caminho. Não há mercado nem crise financeira que resista a este teste de contaminação. De nada adianta controlar o défice público se cair sobre nós a violência e se não houver paz. Mas a paz de todos e para todos.

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