segunda-feira, agosto 01, 2005

H de histeria e hipocrisia

Foi assim aquando dos ataques terroristas em Nova Iorque e Washington. O mesmo se passou aquando dos atentados em Madrid e, agora, Londres. Sempre que uma cidade do chamado mundo ocidental é atacada logo os principais lideres mundiais, em geral, e os lideres ocidentais, em particular, reagem em completa histeria condenando os ataques, afirmando que não têm medo e que os terroristas não irão alterar o modo de vida do seu país e fazendo minutos de silencio em vários pontos do mundo ou da Europa. É claro que os sangrentos atentados terroristas são condenáveis a todos os níveis. Porém também é condenável e hipócrita a dualidade de critérios entre os atentados que ocorrem no ocidente ou aqueles que fazem vítimas ocidentais e os atentados que ocorrem em outros pontos do globo com outras vítimas.
A histeria acontece quase imediatamente a seguir a um atentado terrorista levado a cabo no ocidente. Esta é a primeira vitória dos agentes do terror. Os governos dos países atacados reagem a quente aos acontecimentos e, por isso, as declarações feitas nessas circunstâncias acabam por ser, ao contrário do que se diz, pouco serenas e pouco sensatas com laivos de arrogância e birrentas quanto baste. Uma das primeiras coisas a ser dita é que os terroristas não conseguirão impor o medo. Contudo, nos dias seguintes todos reagem, como é natural, com ansiedade e medo. Outro dos pontos dos discursos emocionados e birrentos é afirmar que os bombistas não conseguirão alterar o seu modo de vida nem destruir a democracia. Mas alteram! Pode-se falar mesmo num antes e num depois dos atentados. Cada atentado bem sucedido é sempre, quer se queira quer não, um golpe profundo e não é fácil recuperar. Basta ver que sempre que ocorre um atentado terrorista num determinado país todos os outros põem em prática, num estado evidente de grande nervosismo, medidas excepcionais de segurança sendo frequente explosões de malas, sacos e até carros (como aconteceu em Évora) que estão ou aparentem estar abandonados e se criam pacotes de leis anti-terroristas que muitas vezes vêm pôr em causa direitos e liberdades democráticas fundamentais. Mas é a única solução! O combate ao terrorismo implica condicionamentos à democracia. Resta saber até que ponto estão os cidadãos dispostos a tolerar estas limitações. E também neste caso os terroristas conseguem alguns pontos.
Há ainda as mensagens de condolências e os minutos de silêncio vindas de vários governos e instituições internacionais. Estas contudo não passam, a meu ver, de um simples acto político com uma dose de hipocrisia e vassalagem quanto baste para opinião pública ver, porque se se lamentassem verdadeiramente as vitimas então também haveriam mensagens de condolências aos governos de países que sofrem catástrofes naturais (em que o numero de vitimas é geralmente da ordem dos milhares) ou em que ocorrem acidentes trágicos (Acidentes de comboio na Índia ou Paquistão, acidentes nas minas chinesas e ucranianas, etc.). O tsunami de 26 de Dezembro de 2004 teve maior repercussão não porque tivessem morrido milhares de cingaleses, indianos, indonésios ou tailandeses mas porque morreram também milhares de turistas ocidentais muitos deles certamente em busca dos paraísos sexuais e pedófilos que são a Tailândia e arredores.
Também não se vislumbram condenações veementes, mensagens de condolências e minutos de silêncio quando são massacrados, em atentados terroristas ainda mais mortíferos, centenas de paquistaneses ou habitantes de Caxemira. No Iraque, desde que foi invadido, os atentados suicidas são o pão-nosso de cada dia. Dezenas de iraquianos são massacrados diariamente sem que se verifique o rol de tão afanosas mensagens que são endereçadas aos governos de países ocidentais atacados. E para além de serem vítimas do terrorismo, os habitantes comuns destas zonas são também vítimas da miséria, da falta de infra-estruturas básicas, da falta de meios de socorro, da falta apoio psicológico, de hospitais sem condições e de falta de medicamentos entre outras provações. Estes não têm a oportunidade de se irem tratar em hospitais no estrangeiro nem de disporem dos meios apenas ao alcance das elites ricas e corruptas que, na maioria dos casos pilham os seus países e observam as suas recheadas contas bancárias no estrangeiro crescerem dia a dia. Até os terríveis ataques em Bali na Indonésia, que foi do mais sangrento que até agora houve em matéria de atentados, só tiveram mais impacto porque entre as vítimas contavam-se inúmeros cidadãos australianos. Mas será que a vida de um qualquer cidadão da Europa (ocidental), norte-americano, australiano ou israelita é mais valiosa do que a vida de um latino-americano, africano, iraquiano ou asiático – com excepção do Japão e Coreia do Sul? Sempre que as vítimas do terrorismo são de Kerbala, Fallujah, Bagdad, Srinagar, Islamabad ou outras cidades não ocidentais dá-se a notícia encolhe-se os ombros e pronto, paciência. Se as cidades atacadas são europeias ou norte-americanas é um «ai Jesus». E quando ocorrem atentados terroristas em zonas de luxo em países terceiro mundistas e, em muitos casos, com regimes ditatoriais brutais a primeira coisa que se procura saber é se entre as vitimas estão turistas ocidentais, porque esses é que são importantes, é que são «filhos de Deus»; os outros...
Um estudo de uma instituição britânica dá conta de que desde a invasão do Iraque já foram assassinados mais de vinte cinco mil (25.000) civis iraquianos (ou inocentes se quiserem!) sendo que mais de um terço (cerca de 8500) foram mortos pelos seus auto-intitulados libertadores que falavam – entre eles o sinistro e cínico Secretario da Defesa ianque Donald Rumsfeld – para as suas opiniões publicas aprovarem a invasão, em guerra cirúrgica e zero baixas entre os civis. Quantos minutos de silêncio não teriam que ser feitos em honra destas inúmeras vítimas do terror dos bombistas suicidas e do terror das bombas da aviação e balas dos soldados invasores?
De referir que a situação em que o Iraque mergulhou, que se saiba, jamais foi equacionada pelos famosos e brilhantes (?) estrategas político-militares do Pentágono que foram, por altura da invasão, elevados a Deuses no Olimpo, pela comunicação social e pelos garbosos Oficiais Superiores das Forças Armadas portuguesas por esta convidada; os mesmos Oficiais que comentavam diariamente o decurso das operações militares das «nossas forças» (!!!) – Sem querer ser mauzinho ou insinuar o que quer que seja; é apenas um desabafo! Não sei porquê nem a troco de quê o uso sistemático da palavra «nossas». Que eu saiba Portugal não é o 51º estado da União e os únicos militares invasores que falavam a língua de Camões eram os filhos de emigrantes portugueses e, quiçá, brasileiros que se alistaram no US Army – em terras do Crescente Fértil, tão fértil que não há palmo de terra iraquiana quem não tenha sido semeada de bombas, que têm feito bastante criação... perdão, destruição estando ainda para se ver qual delas é ou será a mãe de todas as bombas. Tão fértil que os EUA (ou o regime de Bush) pensaram logo numa maneira de matar dois ou mais coelhos (e dos grandes!) com uma cacetada só. Por um lado, para invadir o Iraque foi necessário armamento e aí lucraram, e ainda lucram, as fabricas de armamento americanas pois a resistência iraquiana e a Al Qaeda têm espatifado bastante equipamento, cifrado na ordem dos milhões de dólares, ao designado exército mais poderoso do mundo, que não consegue – tem que se informar, ou lembrar, os geniais estrategas do Pentágono e outros génios militares que é impossível vencer militarmente uma guerrilha principalmente porque um guerrilheiro pode ser qualquer um. Não é à toa que os soldados da coligação e as forças de segurança iraquianas, por estes treinadas e equipadas para irem para a frente, enquanto que os americanos e britânicos ficam na retaguarda a dar as ordens e a coordenar os ataques, minimizando ou tentando minimizar o numero de baixas nas suas fileiras, revistam mulheres, velhos e até crianças – esmagar um pequeno, salvo seja, conjunto de insurrectos que não têm nem equipamento pessoal, nem meios aéreos, nem carros de combate, nem artilharia pesada, nem tanques; combatendo de chinelos, túnica e lenço palestiniano (Keffiah) enrolado na cabeça em forma de turbante, usando meios simples como metralhadoras Kalashnikov, granadas, bombas caseiras colocadas em pontos estratégicos dissimuladas em automóveis, carroças e outros equipamentos armadilhados à beira das estradas ou de edifícios alvo, algum equipamento capturado ao inimigo e o uso abundante e incessante de bombistas suicidas; a sua mais terrível arma devido ao terror psicológico, choque e pavor causado; e depois quando o Iraque estivesse «pacificado» e «democratizado» entravam em cena as empresas petrolíferas (principalmente americanas e britânicas) que iriam explorar o ouro negro em terras do Rafidahin e as empresas construtoras (idem) que iriam reconstruir as infra-estruturas básicas iraquianas, destruídas pelas bombas da coligação invasora, sendo a factura paga pelo democraticamente eleito Governo iraquiano usando para tal os recursos do país, numa lógica absurda não do quem parte paga mas do quem parte ainda recebe ou do quem vê os seus bens destruídos por terceiros, quando estes se oferecem para reparar o que destruíram, tenham ainda que lhes pagar os serviços prestados!
Seria um gigantesco e fabuloso negócio (das Arábias)! E já nem falo de outros negócios, no presente, como o da segurança privada ou aqueles que foram celebrados, no passado, com o sanguinário regime Saddamista, quando este era «bem comportado» e por consequência era protegido do Ocidente; só que o ditador estragou a vida dele com a invasão do Kuwait.
E tudo seria perfeito não fossem os desmancha-prazeres da Al Qaeda e aqueles iraquianos patriotas que, longe de serem apenas gente do regime de Saddam, não toleram a invasão, ocupação e espoliação do seu país fazendo a vida negra aos invasores e fazendo-os pagar um preço elevado em termos de baixas tornando ridícula a declaração de vitória de Bush a 1 de Maio de 2003. Pensaram, erradamente, que chegavam e roubavam os recursos do Iraque enquanto que os iraquianos comiam e calavam! Só os imbecis dos soldados ianques é que comem e não só calam como gostam pois não conseguem ou não querem perceber que estão no terreno principalmente a proteger o sonhado negócio milionário de alguns compatriotas, entre eles algumas figuras do regime Bushista não se importando de serem carne p´ra canhão ou insignificantes e sacrificáveis peões naquele xadrez pois cada vez que recebem, entre outras, a visita do sinistro Secretario da Defesa perfilam-se todos para a fotografia, risonhos, batendo palminhas e dando-lhe palmadinhas nas costas e até pedindo-lhe autógrafos. Acontece que a visita de tão ilustres personalidades é «de médico», pois a situação é perigosa, durando o tempo estritamente necessário para animar a malta, retirando-se rapidamente e em força para local mais protegido deixando a tropa macaca entregue «aos bichos»! A imprensa e os ocupantes retratam estes acontecimentos como visitas surpresa. Eufemismo barato! Eu chamo-lhe antes visitas relâmpago, de fugida e ás escondidas para não serem alvo da resistência que se soubesse de antemão de tão graúdas figuras, a bordo dos helicópteros que cruzam os céus do Iraque, chamavam-lhe um figo, abatendo-os imediatamente!
Resumindo e concluindo, sempre que as vítimas do terrorismo são de países do terceiro mundo pouca importância se dá, quando um qualquer gato-pingado ocidental é vítima do terror logo todo o mundo se desfaz em condolências e minutos de silêncio!
Há ainda o recém-criado chavão que é propalado por muitos quando ocorre um atentado terrorista de grande envergadura no ocidente que consiste em afirmar que somos todos da cidade vítima de atentado. Por mim, não me importo, em dia de atentado, de ser nova-iorquino, madrileno ou londrino desde que seja também de Bagdad, Fallujah, Kerbala, Najaf, Islamabad, Quetta, Bali, Istambul, Ramalah ou Gaza!

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