quarta-feira, julho 20, 2005

A praga dos incendiários

Sempre que o verão chega e as temperaturas aumentam, Portugal converte-se automaticamente num grande churrasco e todas, todas as suas florestas e áreas protegidas (?) correm o risco de ficar reduzidas a um gigantesco braseiro. Porque acontece isto e porque é que não existem soluções?
Historicamente, não existem relatos de grandes fogos florestais em Portugal sempre que se aproximava o verão. Embora sempre tenha havido esse risco e ocorrido certamente algumas situações do género, este fenómeno é relativamente novo, com cerca de 30 anos, tendo vindo a haver um progressivo aumento no numero de fogos por ano e na área total ardida, principalmente desde o verão de 2003. É também curioso o facto de o maior número de incêndios ocorrer a norte do rio Tejo.
São inúmeras as razões, que do meu ponto de vista, contribuem para esta catástrofe ambiental, social e económica a começar pelo progressivo abandono a que estão votadas as matas e florestas nacionais. Houve um tempo em que muita gente vivia na floresta, existiam muitos pontos de vigia e muitos vigilantes e sempre que havia um foco de incêndio este poucas vezes tinha hipóteses de se converter num grande incêndio. Hoje a incúria e a incompetência são os grandes aliados do fogo e dos incendiários, autênticos terroristas ecológicos, e os poucos vigilantes da floresta são, em grande número, pessoas de idade já avançada.
É para mim mais do que obvio que mais de 95% dos fogos florestais são de origem criminosa e não são certamente só loucos – neste caso são apenas bode expiatório – a cometer tais actos. Loucos sempre os houve, então porque é que antes não punham fogo nas matas com tanta frequência como agora põem?!
Existem sem dúvida interesses sinistros que se movem na sombra e que ganham em ver as florestas serem consumidas pelas chamas. Qual a origem desses interesses? A existirem de facto, compete à Policia Judiciária investigar não sou eu que vou aqui especular!
Contudo, todos têm, do meu ponto de vista, culpas no cartório muitas delas criminosas. República, em especial os sucessivos governos da dita, televisões, populações, etc.
Comecemos pelo Estado, cuja principal e, pode-se mesmo dizer praticamente única, medida é a prevenção. É fundamental que se agravem fortemente as penas de prisão para os autores morais e materiais de incêndios, que incorrem em crimes tais como terrorismo e terrorismo ecológico, crimes contra a Natureza, traição até, destruição de propriedade privada, HOMICIDIO e um sem rol de outros crimes; que a Justiça seja célere a actuar!
Em relação aos bombeiros, não seria viável a unificação das corporações de bombeiros num único corpo nacional, num modelo semelhante ao da PSP ou GNR, com um comando geral, sedeado no interior do país, por exemplo em Castelo Branco, e vários comandos regionais e locais e uma hierarquia definida, militarizados ou semi-militarizados o que permitiria certamente uma melhor coordenação e organização, com uniformes e equipamento comuns e houvesse no seio desta corporação divisão por especializações (Serviços de saúde, Brigada de intervenção química, Brigada de combate a incêndios, Brigada de sapadores, Divisão aérea, Brigadas especiais - de elite - que actuam em cenários de grande catástrofe como terramotos, tsunamis, atentados terroristas, etc.) e se caminhasse no sentido de um profissionalização cada vez maior em que os elementos de cada divisão apenas tinham determinadas tarefas e se acabasse com o modelo das associações humanitárias, corpos sociais e sócios (que implica descriminação dos cidadãos entre sócios e não sócios.) e que implicam uma gestão pouco transparente e possíveis negócios paralelos?
Porque não integrar a Policia Florestal na GNR como Brigada Florestal para esta ter um carácter de verdadeira polícia, fazendo cumprir as obrigações de muitos proprietários que deixam as matas ao abandono e não cuidam de caminhos e estradas?
É também fundamental que se multipliquem os postos de vigia e o número de vigilantes. E já nem falo no cúmulo de fixar datas para os meios aéreos entrarem em acção!
É muito frequente ouvirmos os bombeiros no terreno afirmarem que é impossível, em determinadas circunstancias, haver reacendimentos e abertura de novas frentes de incêndio que acontecem nas suas costas, muitas vezes apenas a 4 ou 5 Km! Porque é que não são destacadas forças policiais e até militares, para actuarem como batedores, e se usam meios de vigilância aéreos, na retaguarda dos bombeiros criando perímetros de segurança e isolando a área afectada colocando a zona de incêndio em estado de sítio se necessário for para acabar com a sabotagem das operações de combate ao fogo por parte de quem muitas vezes o iniciou e que ainda tem o descaramento e a audácia para continuar a actuar, e se necessário capturar esses elementos nem que seja para impedir a destruição de provas em caso de mão criminosa? Aquilo que se vê na televisão, em termos policiais, são os poucos elementos dos postos locais com capacidade apenas para evacuar as populações, controlar o trânsito das pessoas em fuga e ajudar os bombeiros e cidadãos jogando alguns baldes de água para o fogo!
As televisões, para alem de fazerem uma cobertura exaustiva dos incêndios no terreno também deviam noticiar em que pé estão as investigações da Policia Judiciaria quando se suspeita de mão criminosa, pressionando-a. Se há suspeitos, se há detidos e quando vão ser apresentados à Justiça, se são constituídos arguidos, que medidas de coacção lhes são aplicadas e se são condenados. Em suma, deviam mediatizar estes casos em semelhança com o que fazem com outros casos de polícia e em julgamento. Da maneira actual como são apresentadas as notícias de incêndios, dá a sensação que em muitos casos houve, de facto, mão criminosa (ou apenas suspeições) mas não houve uma investigação rigorosa, não houveram detidos nem condenações dando assim alento a quem executa e/ou manda executar tão infernal tarefa.
A grande maioria das pessoas afectadas também é responsável por aquilo que muitas vezes lhes acontece pois raras são as vezes em que não se vejam autenticas selvas em redor das suas casas – arvoredo, ervas secas, matagal – barracões de madeira ressequida nos quintais perto das moradias, fardos de palha, pneus velhos e todo o tipo de lixos inflamáveis. Não me comove especialmente ver gente desesperada de lágrimas nos olhos, muitas vezes com o objectivo de receber do Estado o famigerado subsidio e ajudas, quando foram em boa parte também responsáveis pela desgraça que lhes bateu à porta. É frequente visualizar imagens de gente que aquando da proximidade dos incêndios se agarra à enxada e desata a arrancar ervas, limpar árvores e limpar mato e lixo próximo das suas casas. É escusado! É como aquele doente que nunca seguiu as instruções do médico e não tomou os medicamentos que lhe foram prescritos e só na hora da morte quando já está a dar o ultimo suspiro é que desata a tomar os medicamentos na esperança de se salvar. Já não vale a pena estar-se a moer! É tarde de mais! Nessa altura, o que apenas que lhe resta é deitar o coração ao largo, descontrair e deixar-se levar no balão! As populações que moram perto de áreas florestais e/ou são proprietárias de terrenos florestais têm todo o ano para limpar as matas e arranjar caminhos e não ficar à espera que o Estado resolva tudo. Muitas das matas e floresta propriedade do Estado e Municípios também são deixadas ao deus dará sem que haja a responsabilidade de quem devia dar o exemplo. Nesse caso as populações têm a obrigação de fazer o Estado actuar, pressionando-o e no caso deste não actuar juntarem-se e fazerem o trabalho por conta própria ao mesmo tempo que o colocam em tribunal por não cumprir o seu dever. E o mesmo se aplica a proprietários individuais. Individualmente, cada um devia lembrar-se de limpar os seus terrenos e realizar queimadas apenas quando as condições são propícias. Se não pode, porque é idoso ou inválido, deve pagar a quem o faça ou pedir ajuda a familiares ou amigos.
Enquanto todos continuarem a actuar como até aqui, o flagelo irá subsistir até pouco ou nada restar das florestas nacionais e os senhores do fogo continuarão com as mãos livres para actuarem como até aqui. É fundamental recordar que a ocasião faz o ladrão!

As estratégias do terror – terrorismo em directo

Cada vez que a Al Qaeda consegue levar a cabo atentados terroristas, sempre de grande envergadura, seja em que lugar do mundo for, o seu objectivo, mais do que provocar uma chacina ou estragos de monta, é criar, incutir, provocar o pânico e o terror naqueles que sobrevivem procurando alterar radicalmente todo um modo de vida da cidade atacada – se não mesmo do país – daí o uso de várias acções concertadas e/ou várias bombas de forte potencia que são levadas a explodir quase em simultâneo em locais de grande afluência como transportes públicos; e não apenas terrestres! Existe uma grande probabilidade de os próximos ataques ocorrerem em transportes públicos fluviais e marítimos como por exemplo cacilheiros – à atenção, em especial, das autoridades portuguesas – sendo aqui o grau de destruição ainda maior pois uma ou mais bombas de grande potencia pode ser o suficiente para afundar o navio provocando a morte por afogamento a muita gente que não foi vitima da(s) explosões dando poucas hipóteses de salvamento ás equipas de socorro. Que não se cometa o erro de achar que os terroristas apenas actuam em transportes rodoviários e ferroviários. Dissimular um bomba num navio é sem duvida mais fácil! Ou em portos marítimos e estações fluviais!
E o que dizer de uma explosão num comboio quando este está a passar na ponte 25 de Abril? Assustador!!!
É pois sobre o modus operandi e as estratégias do terrorismo islâmico que vamos aqui reflectir.
O ataque terrorista que até agora teve mais impacto foi o de 11 de Setembro de 2001, nos EUA. Porquê? Não apenas porque foi o atentado com o maior número de vítimas até agora, não apenas pelo simbolismo dos alvos escolhidos; não só para os ianques mas para todo o chamado mundo ocidental mas principalmente pela ousadia e meios usados e mais importante que isso, porque foi um ataque visível para todos quantos quiseram e puderam ver, porque não ocorreu num local discreto mas em edifícios imponentes e porque o momento do impacto foi filmado em vários ângulos praticamente em directo bem como os efeitos catastróficos do mesmo com especial destaque para o colapso das torres do World Trade Center.
É pois mais que obvio que a espectacularidade das acções terroristas seja um factor de peso e um objectivo a ter em conta para quem as executa. Não é pois de estranhar que as novas gerações de terroristas procurem, usando meios cada vez mais sofisticados e mortíferos, conseguir o maior impacto psicológico possível nas populações flageladas.
Pelo que se sabe, muitos planos terroristas têm sido frustrados e desarticulados pelas policias um pouco por todo o mundo. Tal permite ás autoridades perceber não só as tácticas usadas como ainda saber que tipo de meios empregam os agentes da Al Qaeda permitindo-lhes criar estratégias de combate ao terrorismo cada vez mais eficientes. Daí que muitos comentadores afirmem que as policias vão cometendo cada vez menos erros. Pois é, por cada acção terrorista bem sucedida as autoridades vão aprendendo, percebendo e cometendo menos erros seja na recolha de informação, seja na forma de frustrar tais planos seja no modo de actuação em caso de ameaça iminente adaptando-se cada vez melhor a este tipo de fenómeno. Acontece que o que ninguém diz é que o inverso também é válido! Por cada plano frustrado, os terroristas também aprendem onde, com e quais os erros que cometeram procurando não os repetir em acções futuras e tentando refinar as suas sinistras estratégias daí que infelizmente estes ataques irão continuar em qualquer parte do mundo sem que se consigam encontrar formas de os travar a tempo jogando-se, assim, um obscuro jogo do gato e do rato.
Não me admiro nada que no futuro os terroristas usem a comunicação social, em especial a televisão, como amplificador das diversas acções; e era exactamente aqui que queria chegar. Como disse atrás, os terroristas procuram executar acções espectaculares. A espectacularidade é garantida (e o impacto psicológico também) se os atentados forem em directo. Se estes forem suicidas mais impressionantes se tornam.
Uma forma possível de actuar, a meu ver, a curto médio prazo será da seguinte forma:
Um comando terrorista composto por alguns «bombistas da mochila» usa a táctica habitual de semear bombas em comboios, Metro e autocarros em simultâneo ou não; dependendo das circunstancias e da capacidade operacional. Em paralelo, um ou mais comandos suicidas aguarda pacientemente, próximo do local dos atentados, em carros bomba, pelas explosões, pela confusão, pela chegada da polícia e das equipas de socorro e, mais importante, pela chegada das televisões. Assim que os terroristas verificarem que a zona fica em directo, passam à acção, precipitando o seu carro sobre as autoridades procurando, se possível, fazer mais vitimas mas principalmente causar um irresistível impacto psicológico. É também provável que suicidas se possam infiltrar em multidões que acompanham um programa de televisão em directo feito no exterior ou que assistam a um evento desportivo com pouca vigilância. Em suma, é altamente provável que, no futuro, os terroristas sejam atraídos pelas câmaras de televisão como os insectos são atraídos pela luz.
Tenho pena de abrir o meu blog com um artigo dedicado ao terrorismo. Sinais dos tempos ou como dizia o outro: «É a vida!».